O que é a condromalácia patelar?
E a patela, o que é?
Existem vários tecidos que se ligam à patela
E a cartilagem, o que é?
Cartilagem é um tecido que cobre a patela e permite que ela deslize com facilidade por sobre a tróclea, que é a ranhura no fêmur pela qual a patela se movimenta para cima e para baixo quando dobramos ou esticamos o joelho. Tanto a patela (a região de trás da patela) quanto a tróclea são cobertas por cartilagem, e isso permite com que o deslizamento ocorra com facilidade, praticamente sem atrito algum.
Essa é a imagem de um modelo de joelho no qual movemos a patela de lado para expôr à tróclea e a região posterior da patela - onde está a cartilagem
Quais os graus de degeneração da cartilagem da patela?
Existem 4 graus de degeneração da cartilagem: 1º grau: amolecimento da cartilagem com, eventualmente, leve edema subcondral (condromalácia) 2º grau: fissuras na cartilagem, menores que 1,3cm. 3º grau: fissuras maiores ou iguais a 1,3cm. 4º grau: fissuras que chegam até o osso.
E a condromalácia tem cura?
A condromalácia é, a princípio, reversível. Ou seja, se você tem condromalácia (1º grau apenas) e se mantiver protegido dos estresses que se impõem na cartilagem, ela pode voltar à normalidade, ou seja, você pode deixar de ter a condromalácia. Porém, se você tiver um grau de degeneração maior que o 1º, a regeneração da cartilagem ocorre numa pequena parte das pessoas e é muito pequena.
E por quê não se regenera?
Porque não há circulação na cartilagem, para que possa haver processo de cicatrização.
E como é a dor da condromalácia?
A condromalácia, por si só, não promove dores.
Como assim a condromalácia não produz dores? Diversas pessoas que têm condromalácia sentem dores no joelho.
A cartilagem não possui inervação, e assim não tem como ser fonte de dores. Porém, o osso subcondral (abaixo da cartilagem) e outros tecidos próximos da patela podem estar sendo sobrecarregados e gerando dor. Essa dor não vem da cartilagem, mas dos tecidos próximos, e isso causa confusão, fazendo com que pensem que a dor vem da condromalácia. Essas dores que se originam de tecidos próximos da patela caracterizam a chamada Dor Patelofemoral, Síndrome Fêmoro-Patelar ou, ainda, Síndrome da Dor Patelofemoral. Certas estruturas ou lesões devem ser excluídas do diagnóstico, pois não fazem parte da Dor Patelofemoral, como lesões de menisco ou tendinites.
A compressão do osso subcondral (atrás da cartilagem) é uma das principais causas de dor na Síndrome Fêmoro-Patelar.
E a Dor Patelofemoral ou Síndrome Fêmoro-Patelar? É um sinônimo de condromalácia?
Não, e é aí que muita gente se confunde! A dor patelofemoral é a dor que vem de tecidos adjacentes à patela, tais como membrana articular, osso subcondral, fáscias e outros, nem sempre claramente determinados. Essa dor, muitas vezes é atribuída à condromalácia. Porém, como vimos, condromalácia não produz dor. A dor da condromalácia, portanto, é a dor da Síndrome Fêmoro-Patelar, ou Dor Patelofemoral. Condromalácia e Síndrome Patelofemoral são duas condições distintas que podem coexistir, e que têm as mesmas origens, as alterações de mecânica e sobrecarga excessiva na articulação do joelho.
Essa é uma das razões pela qual não há correlação direta entre o grau de degeneração da cartilagem e a intensidade da dor e dos sintomas no joelho. Porém, quanto maior o grau de degeneração, existe uma tendência para que a dor e os sintomas seja maior, pois há maior exposição do osso e o deslizamento da patela pode estar comprometido. Ou seja, uma pessoa com degeneração de 3º grau pode sentir menos dores que uma pessoa que esteja com 2º grau de degeneração.
Outra razão pela falta de relação entre as alterações estruturais (observadas em artroscopia ou exames de imagem) é que algumas pessoas apresentam uma maior sensibilidade à dor, devido a uma diminuição de um processo chamado de analgesia endógena. A analgesia endógena é um mecanismo de controle sobre estímulos potencialmente dolorosos que o sistema nervoso central exerce. Quando ela está diminuída, estímulos que não geraria dor passam a ser dolorosos, e estímulos que seriam pouco dolorosos passam a ser mais intensos.
E como é a dor da Síndrome Fêmoro-Patelar (Dor Patelofemoral ou Síndrome da Dor Patelofemoral)?
A dor da Síndrome Fêmoro-Patelar, via de regra, é uma dor ao redor e/ou atrás da patela, que se evidencia, especialmente, ao dobrarmos o joelho, como ao agachar, correr, subir ou descer escadas. Pode ocorrer também o que é chamado “sinal do cinema” que é a dor ou incômodo no joelho que se inicia após ficar muito tempo sentado. Existem outros possíveis sintomas, como diminuição da mobilidade do joelho, crepitação (“estalos”) e rangidos (como se tivesse uma areia dentro).
E o que predispõe ou promove o surgimento da condromalácia? Como alguém desenvolve a condromalácia patelar?
Basicamente, a condromalácia se desenvolve devido ao aumento do atrito entre a patela e a tróclea. É como se a patela ficasse raspando na tróclea e fosse se desgastando. Existem diversos fatores que podem ser a causa ou contribuir para que isso aconteça, tais como movimentação (no esporte ou no dia-a-dia) incorreta, fraqueza de certos músculos, encurtamento de outros músculos e tecidos, alterações da estrutura anatômica, alterações da pisada, enfim, são diversos fatores que muitas vezes podem estar associados (por exemplo, músculos encurtados podem levar a alterações de movimento). Por outro lado, a condromalácia pode ter início com um trauma (pancada ou batida) no joelho.
Como assim a movimentação incorreta pode predispor à condromalácia?
A patela, pode se desviar de seu trajeto por sobre a tróclea, aumentando assim seu atrito, tanto por desviar lateralmente, ou pela movimentação da tíbia (osso da perna) em relação ao fêmur (osso da coxa) e vice-versa. Alterações do movimento do pé, perna, ou do quadril, por exemplo, podem interferir na movimentação da patela. Isso porque a patela está ligada à coxa através do tendão patelar e à perna, através do ligamento patelar. Portanto, se a perna gira para a direita ou esquerda, a parte de baixo da patela vai acompanhar, o mesmo acontecendo com a coxa. Alterações no movimento do pé fazem com que a perna gire e assim afetam a patela também.
Por outro lado, por mais que não existam alterações de movimento no pé, perna ou quadril, a patela pode por si só estar mais presa de um dos lados, para cima ou para baixo (existem diversos tecidos ao redor da patela, desde tecidos fasciais, gordura de Hoffa, retináculos, músculos, etc) e esses tecidos podem estar mais presos (por terem se inflamado, por hábitos posturais, alterações neurais, etc), ou certos músculos (especialmente o vasto medial) estarem enfraquecidos ou terem seu padrão de ativação alterado. Esses fatores podem fazer com que a patela não se mantenha alinhada durante a movimentação do joelho, e com isso o atrito seja aumentado.
Então, quais alterações de movimento do pé, ou do tornozelo, podem afetar o joelho e predispor à condromalácia?
Muito bem, tanto uma pisada excessivamente pronada, como uma pisada supinada (onde há falta da pronação) vão alterar a rotação da perna e, como a patela é fixada na perna, sua posição vai ser alterada. Quando há uma pronação excessiva, a perna roda para dentro e a perna, como um todo, cai para dentro, promovendo um valgo no joelho (joelho cai para dentro), e isso favorece o deslizamento lateral da patela na tróclea. A falta de pronação (pisada supinada, por exemplo) deixa a perna em rotação para fora, e assim a patela tende a ir para fora pois está fixada à perna. Indo para fora, o atrito entre a patela e a superfície da tróclea tende a aumentar, e assim o stress sobre a cartilagem da patela.
O movimento de queda para dentro (valgo) ou queda para fora (varo) do joelho, que podem ou não serem originárias da pisada pronada ou supinada,terão esse efeito de deslizar a patela para fora, conforme mencionamos acima.
Uma pisada com o pé para fora, via de regra está associada a uma pisada pronada (embora possa também estar associada à uma pisada supinada) e, dessa forma, favorece o aumento do stress sobre a cartilagem da patela.
Todas essas alterações favorecerão o surgimento (ou agravamento) da condromalácia.
caminhada - pé com supinação excessiva - visão lateral
caminhada -supinação excessiva
pronação excessiva durante a corrida
Neste último vídeo devemos atentar a alguns momentos. A pronação é maior no pé esquerdo, e observem como o ângulo de progressão está mais aberto no pé esquerdo (ou seja, ele aponta o pé para fora, ao invés de alinhado à frente da perna).
36s até 1min: visão posterior, trote.
2m22s até 2m48s: visão posterior, corrida em maior velocidade.
3m20s até o fim: corrida na pista, vista frontal.
E quais alterações do quadril?
Quando falamos da articulação do quadril, falamos da articulação entre o fêmur e a bacia. Qualquer alteração rotacional do fêmur, ou seja, a coxa girada para fora ou para dentro, vai influenciar a posição da patela. Com a coxa girada para fora a patela vai tender a se deslizar para dentro, ocorrendo o oposto caso com a coxa girada para dentro. A coxa girada para dentro pode favorecer o joelho em valgo, o que reforça ainda mais o desvio da patela para fora.
E quais alterações anatômicas? O que você quer dizer por alterações anatômicas?
Alterações anatômicas são alterações da estrutura óssea do indivíduo, ou seja, não são posturais. São alterações que não se pode mudar através de treinamento ou exercícios. É como se o osso tivesse um formato diferente.
A anteversão da cabeça femoral é uma alteração que promove a rotação do eixo de todo osso fêmur para dentro. Ou seja, é como se sua coxa estivesse rodada para dentro, fazendo com que seu pé aponte para dentro. Porém, é uma posição inadequada e desconfortável para andar ou correr e o corpo encontra uma solução rápida para contornar esse problema, que é a de rodar o joelho para fora, de forma que o pé passe a apontar para frente. Porém, a tróclea ainda vai tender a apontar para dentro, embora a perna esteja rodada para fora. A patela, dessa forma, vai deslizar para fora em relação à tróclea, aumentando o atrito e favorecendo a condromalácia.
Existe também a retroversão da cabeça femoral, que roda o osso fêmur para fora. A posição do pé apontando para fora favorece mais a caminhada ou a corrida do que o pé apontando para dentro. Dessa forma, possivelmente possa ocorrer uma rotação para dentro do joelho, e conseqüente tendência da patela em se deslocar para dentro.
Existem alterações anatômicas do pé, como antepé varo e antepé valgo, nas quais a região da frente do pé fica torcida em relação à região de trás, que favorecem uma pisada pronada (no caso do antepé varo) ou supinada (antepé valgo). As consequências observadas são as mesmas para as situações de pisada pronada e supinada, descritas anteriormente.
O retropé varo é uma torção da parte de trás do pé que também vai favorecer uma pisada pronada. Um eventual retropé valgo poderia favorecer uma pisada supinada. Com as devidas conseqüências ao movimento da perna, da patela, e podendo favorecer a condromalácia.
O pé de Morton é aquele em que o segundo dedo aparenta ser mais longo que o primeiro (dedão), devido a ter um 1º metatarso menor. Dessa forma, a pisada acaba sendo mais lateralizada (pé apontando para fora) para que, na caminhada ou corrida, se consiga realizar a propulsão com o primeiro dedo. Ela vai favorecer uma pisada pronada, cujas conseqüências para o joelho já discutimos acima.
Uma tíbia vara irá favorecer uma pisada pronada, embora também seja encontrada em pessoas com pisada supinada (e um pé rígido). A tíbia vara é uma tíbia (osso da perna) com o eixo inclinado para dentro, de cima para baixo. Ou seja, ela não é totalmente vertical, tende a fechar para dentro.
Uma coxa vara irá favorecer um joelho valgo, enquanto uma coxa valga irá favorecer um joelho varo, cujas conseqüências já discutimos. Coxa vara e valga são alterações do osso da coxa, o fêmur.
Ou seja, se você tem, ou quer prevenir a condromalácia, é importante ir estar ciente de certas alterações da sua estrutura óssea.
E em relação aos músculos que ficam enfraquecidos? Que músculos são esses?
Os músculos mais comumente relacionados com as alterações de movimento e com a predisposição à condromalácia são o glúteo médio posterior (um músculo da bacia) e o vasto medial oblíquo (músculo do joelho), de forma que o enfraquecimento ou déficit de recrutamento de qualquer um (ou ambos) altera a relação entre a patela e a tróclea, favorecendo a compressão da patela.
No caso do vasto medial oblíquo, o raciocínio é simples. Ele é um músculo que puxa a patela para dentro e, estando enfraquecido, ocorre uma dominância do vasto lateral, e a patela é, então, puxada para fora, aumentando assim o atrito da superfície posterior da patela com a região lateral da tróclea.
O glúteo médio posterior fica na região lateral da bacia e uma de suas funções é a de rotação lateral do quadril, ou seja, girar a coxa para fora, ou controlar a rotação da coxa para dentro. Quando a coxa roda muito para dentro, conforme já discutimos, a patela tende a se comprimir com a região lateral da tróclea. Além disso, essa rotação vai favorecer o posicionamento do joelho em valgo.
Evidentemente, esses não são os únicos músculos que podem interferir no joelho e influenciar no desenvolvimento da condromalácia. Sempre deve ser enfatizada uma avaliação detalhada pelo fisioterapeuta.
Mais abaixo veremos que manter músculos fortes e equilibrados ajuda a prevenir o desenvolvimento ou agravamento da condromalácia.
E sobre os músculos e tecidos que ficam encurtados, e afetam o movimento do joelho? São músculos e tecidos só próximos do joelho ou não?
Os tecidos abaixo da pele podem se encurtar e isso dificultar os movimentos da patela, ou da perna, afetando assim, o movimento da patela. A patela pode estar presa para cima, para baixo ou para os lados e, quando se dobra ou estica o joelho, ele vai ficar mais presa de um lado ou do outro, ou se movimentando menos (ou mais) para cima ou para baixo.
A perna pode ficar presa, por exemplo, girada para fora (rotação lateral do joelho), e isso vai fazer com que a patela tenda a se deslocar para fora nos movimentos de dobrar e esticar o joelho, aumentando a compressão da patela com a região lateral da tróclea. Um músculo que pode ter efeito semelhante quando encurtado, é o tensor da fáscia lata, que no joelho age como um rotador lateral quando este está dobrado, e que tende a favorecer o valgo de joelho também.
Se os tecidos ao redor da patela ficarem muito encurtados de maneira geral, pode ocorrer um aumento da compressão da patela em relação à tróclea sem que ocorra uma grande alteração da posição da patela. É como se ela estivesse mais apertada em direção à tróclea.
E como tratar a condromalácia?
Em relação à tratamento da condromalácia, precisamos proteger a cartilagem e diminuir o stress que ela sofre. Pode-se realizar o uso de condroprotetores, medicamentos que visam evitar ou minimizar o desgaste da cartilagem, orientados pelos médicos.
Em relação ao tratamento fisioterapêutico, esse deve ser sempre baseado numa minuciosa avaliação de todos os fatores que podem estar contribuindo para o desenvolvimento da condromalácia. Alterações de movimento, fraqueza muscular, tecidos e músculos excessivamente presos, alterações anatômicas, excesso de atividades que sobrecarregam a articulação, excesso de treino (na prática esportiva), excesso de peso, dentre outros, são todas possíveis origens ou contribuições para o surgimento da condromalácia, sendo que muitas vezes essas alterações estão associadas (exemplo, alteração do movimento pela falta de força).
Com base na avaliação realizada e nos fatores encontrados, e sempre levando em conta o paciente como um todo, o fisioterapeuta irá estabelecer uma linha de trabalho e iniciar a aplicação de suas condutas, sendo que exemplos destas condutas são: . exercícios de fortalecimento muscular . reeducação do movimento, da corrida ou do gesto esportivo . exercícios de alongamento . técnicas articulares manuais . técnicas de bandagens e fitas adesivas . uso de palmilhas para corrigir alterações dos pés . técnicas de liberação manual do tecido . orientações em relação à atividades e sobrecarga na patela
Tudo bem. Me fale mais a respeito dos exercícios de fortalecimento muscular.
Os exercícios de fortalecimento talvez sejam a orientação mais importante na maior parte dos casos de condromalácia. Diversos tipos de exercícios podem ser orientados, de acordo com os déficits encontrados pelo fisioterapeuta. Exercícios para fortalecimento da musculatura do tronco e do quadril são muito importantes, já que o posicionamento da bacia e do quadril interfere com o posicionamento do joelho. Fortalecer glúteos, ísquiotibiais (posteriores da coxa), músculos adutores e outros se torna muito importante, assim como abdominais e músculos ao redor da cintura.
O fortalecimento do quadríceps também é muito importante. Pode ser enfatizado o trabalho do músculo vasto medial. Os cuidados com a compressão excessiva da patela são essenciais para proteger a cartilagem. Por isso existem amplitudes de movimento a serem respeitadas.
Salienta-se, porém, que cada caso é um caso e outros músculos poderiam ter de ser enfatizados visando um controle corporal mais adequado visando-se diminuir a sobrecarga na patela. Um exemplo seria o fortalecimento da musculatura do pé, incluindo flexores dos dedos e musculatura intrínseca do pé visando o controle da pronação do tornozelo. A conduta fisioterapêutica sempre deve ser individualizada.
Outro aspecto importante é que, não é porque certos músculos costumam ser enfatizados que devemos esquecer a importância do equilíbrio muscular do corpo inteiro. Fortalecer somente o músculo quadríceps e esquecermos dos músculos ísquiotibiais pode colaborar com o desenvolvimento de um importante desequilíbrio muscular, que pode inclusive favorecer uma sobrecarga de Ligamento Cruzado Anterior (LCA), possivelmente contribuindo para uma ruptura. Portanto, o equilíbrio muscular adequado continua sendo fundamental para a saúde do indivíduo, tenha ele condromalácia ou não.
E em relação à reeducação do movimento? Como é feita?
A reeducação do movimento pode ser feita de diversas maneiras. Uma delas, especialmente útil no caso de atletas ou esportistas, é através da filmagem (ou mesmo observação ou uso fotos) do movimento, e identificação de alterações que podem sobrecarregar o joelho. Orientações, somadas à apresentação do vídeo, são passadas ao atleta de forma que ele corrija seu movimento. Em muitos casos, especialmente em relação a correção do movimento de atividades do dia-a-dia (como subir escadas) o vídeo não é necessário. Salienta-se que muitas vezes outros trabalhos paralelos deverão ser realizados, pois o que pode estar originando a alteração do movimento é um outro fator, conforme já mencionamos, que pode ser o déficit de força muscular, ou um tecido ou músculo muito encurtado. A reeducação ou correção do movimento em si só poderia ser feita após este fator ser eliminado, sendo que o movimento pode se alinhar automaticamente após esse fator ser retirado.
O próprio treinamento de força pode ser um método de correção de movimento, pois o exercício em si pode também ser um treino de coordenação que irá corrigir a alteração de movimento, ou pelo fortalecimento muscular que irá permitir que a musculatura coordene o movimento impedindo a sobrecarga na cartilagem. O exemplo direto é o exercício de agachamento.
O uso de bandagens ou fitas adesivas pode ser também um mecanismo de correção do movimento. Um exemplo é quando a aplicação é feita diretamente sobre a patela, de forma que ela se movimente de forma mais alinhada na tróclea. Isso feito repetidas vezes poderá tornar mais fácil a ativação do músculo vasto medial, e tornar automático esse movimento corrigido.
Não existe uma forma de correção específica para a condromalácia. É necessária uma avaliação do movimento para que observe o que é necessário ser corrigido.
E em relação aos exercícios de alongamento?
Os exercícios de alongamento são outros recursos que podem ser muito úteis. Estes podem ser realizados de diversas formas, como por exemplo o auto-alongamento (a pessoa realiza ela mesma o alongamento), assistido (outra pessoa auxilia o alongamento), manual (por exemplo, através de pompagens, o tecido é alongado com mais especificidade pelas mãos do terapeuta), com atividade de contração-relaxamento (popularmente conhecido como alongamento FNP), balístico (raramente usado na fisioterapia exceto em fases avançadas da reabilitação), dentre outras.
Músculos e tecidos podem estar muito curtos ou tensos, com pouca elasticidade, e com isso impedem que as articulações se movam com a devida liberdade, podendo promover alterações no movimento e na postura. No caso da condromalácia, alterações como joelhos valgos e rotação externa do joelho podem estar sendo causadas pelo encurtamento do músculo tensor da fáscia lata e da banda íliotibial (tecido que desce pela região lateral da coxa), e esse encurtamento pode ser corrigido através do uso correto e específico dos alongamentos.
A musculatura da panturrilha (tríceps: gastrocnêmios e sóleo) pode estar encurtada também, levando à pronação do tornozelo durante a corrida ou caminhada. Essa pronação do tornozelo levaria ao movimento em valgo, do joelho, o que poderia estar contribuindo para a condromalácia. Exercícios de alongamento para a musculatura mencionada seriam de extrema importância.
Esses são alguns exemplos de situações onde o alongamento seria muito importante no tratamento da condromalácia.
Certo, agora fale mais sobre as técnicas articulares manuais.
São técnicas nas quais o fisioterapeuta visará reestabelecer os chamados micromovimentos articulares, que são a base para que o movimento normal de uma articulação (dobrar ou esticar, por exemplo) ocorra de maneira adequada.
No joelho, essas técnicas são aplicadas na articulação entre coxa e perna (fêmur e tíbia) ou entre a patela e o fêmur. A patela pode ficar presa para um dos lados, ou para cima e para baixo, e isso interfere com seu movimento normal podendo aumentar a sobrecarga na cartilagem (exemplo, uma patela muito acima tende a não ser guiada pela tróclea durante parte do movimento, e quando a encontra, já está numa posição de maior compressão).
Uma fixação entre tíbia e fêmur pode star favorecendo uma postura em valgo do joelho, o que (como explicado antes) pode favorecer o deslizamento lateral da patela na tróclea. Fixações em outras articulações, como coluna, quadris e pés podem ser a origem de alterações no joelho.
E as técnicas de bandagens e uso de fitas adesivas?
As bandagens e fitas adesivas são aplicadas por sobre a pele e visam favorecer o movimento articular normal ou estimular (ou inibir) a ativação de certos músculos.
Duas das técnicas mais populares são McConnell e Kinesio-Taping.
No caso da condromalácia (e da dor patelofemoral) uma das bandagens mais orientadas é aquela que traz a patela para a região de dentro, pois acredita-se que, geralmente, está ocorrendo uma falta de ativação do vasto medial oblíquo e um tensionamento maior dos tecidos laterais (vasto lateral, tensor da fáscia lata, retináculos laterais). Ao puxar para dentro, favorece-se a contração do vasto medial ao mesmo tempo em que se alongam os tecidos laterais.
Porém, existem outras aplicações no joelho, e por mais que possa ser indicada a bandagem como mencionado acima, é necessária a avaliação detalhada do posicionamento da patela e de seu alinhamento, pois deve-se adequar a aplicação a essas pequenas alterações, muitas vezes não percebidas por quem não teve treinamento específico.
E sobre o uso de palmilhas?
O uso de palmilhas terá por objetivo corrigir alterações do pé e da pisada que interfiram na mecânica do joelho, ou então visará compensar a diferença de comprimento de membros inferiores.
Alterações na mecânica e no formato dos pés pode influenciar a mecânica do joelho, sendo os exemplos mais comuns a pronação excessiva do tornozelo e o valgo do joelho. As palmilhas, quando devidamente indicadas, ao corrigir as alterações do pé e da pisada, por tabela trariam o funcionamento equilibrado do joelho de volta, e assim evitaria-se qualquer sobrecarga excessiva.
Ter uma perna mais comprida que a outra causa uma assimetria tanto na altura da bacia, quanto no alinhamento dos membros inferiores, tanto parados quanto em movimento. Uma das possíveis compensações é o maior valgo de joelho e pronação do tornozelo, ambos do lado mais alto, ambos podendo aumentar a compressão sobre a cartilagem da patela (e favorecer a condromalácia).
E sobre as técnicas de liberação manual do tecido?
Aqui se incluem massagens que podem ser realizadas de diversas formas. Existem massagens deslizantes, que atuam, em geral, paralelamente aos músculos e tecidos, e podem ajudar os músculos a relaxarem e se alongarem, como também existem massagens compressivas, como o shiatsu. É importante relatar que, no caso da fisioterapia especificamente, o direcionamento da massagem é terapêutico, ou seja, não é uma massagem relaxante, mas uma massagem embasada numa avaliação dos tecidos e da postura, que visa liberar os tecidos presos visando uma melhor função dos músculos, das estruturas e do corpo da pessoa.
Existem também as “Técnicas de Pontos Gatilho” que identificam pontos em músculos excessivamente tensos e estes são pressionados para relaxarem e diminuírem a tensão excessiva, normalizando o tônus muscular.
Os músculos que deverão ser liberados através de técnicas manuais vão variar de situação para situação, mas as orientações mencionadas quando falamos de alongamento são válidas aqui.
E quando começar o tratamento? Faz alguma diferença iniciar antes ou depois?
Faz MUITA diferença!!! O tratamento deve ser começado o quanto antes. Quanto mais se demora para iniciar o tratamento, mais difícil fica a obtenção de bons resultados e maiores os riscos de dor crônica. Portanto, se você suspeita que tem a dor da condromalácia, procure um profissional capacitado o quanto antes!
Quais orientações devem ser dadas em relação à sobrecarga na patela?
As orientações pertinentes aos aspectos mencionados (como fortalecer, como se movimentar, etc) devem estar presentes, assim como a preocupação com atividades do dia-a-dia.
Subir escadas excessivamente pode predispor à condromalácia ou pode agravar uma condropatia já presente, pois o joelho é dobrado numa amplitude em que há compressão da patela sobre a tróclea. Atividades de step se incluem aqui.
Saltos e atividades que incluam saltos também podem agravar uma condromalácia. Novamente, o joelho é dobrado (tanto na impulsão, quanto no amortecimento) promovendo o contato da tróclea com a patela.
O alinhamento das articulações deve ser sempre enfatizado. O desalinhamento durante as atividades (seja no dia-a-dia, nos saltos, ao subir escadas, nos esportes, enfim, nas mais diversas situações) favorece a sobrecarga na patela e, assim, a condromalácia.
Atenção ao posicionamento do pé é outro aspecto muito importante. Como mencionamos, alterações de postura e movimento no pé promovem alterações de postura e movimento no joelho.
O uso de calçados adequados é importante. Calçados desgastados podem alterar a posição do pé. O uso de salto alto pelas mulheres é um fator que pode contribuir com o surgimento ou agravamento da condromalácia, pois aumenta a compressão sobre a patela.
Realizar o fortalecimento muscular é um aspecto fundamental. Mantendo o bom equilíbrio muscular de seu joelho (e de seu corpo) ele fica mais protegido e mais estável. Além disso, o trabalho de fortalecimento vai estimular a cartilagem a ficar mais forte, protegendo-a de um eventual desgaste ou degeneração. Porém, cuidado, conforme falamos, em certos exercícios para o joelho certas amplitudes de movimento devem ser respeitadas.
Manter a elasticidade da musculatura vai permitir que as articulações se movam com liberdade, permitindo aos músculos manter um nível de tensão equilibrado. Com isso, dificilmente vão se encontrar restrições ao movimento do joelho ou da patela.
Movimentar-se corretamente vai fazer com que a sobrecarga no joelho seja mínima, e com isso você vai poder se movimentar mais e realizar mais sem que seu joelho seja estressado. A musculatura forte, associada a músculos e tecidos com boa elasticidade e tensão equilibrada, orientação em relação às atividades do dia-a-dia são a base de manutenção de proteção ao joelho de alguém que tenha condromalácia. Se você pratica esportes é interessante também ter seu movimento avaliado por um fisioterapeuta.
E como prevenir a condromalácia?
Pois bem, para prevenir a condromalácia você deve manter o equilíbrio de suas estruturas corporais, com músculos fortes, de boa elasticidade e tensão adequada, uma movimentação correta, seja no esporte, no lazer ou no dia-dia, e consciência em relação ao excesso de atividades, seja no dia-a-dia ou no esporte.
Músculos fortes vão permitir que seu joelho (e sua patela, e seu corpo) tenha boa estabilidade, e o treinamento de força fortalece a cartilagem (deixando-a mais resistente a qualquer desgaste). Músculos fortes também farão com que atividades que seriam muito exigentes para seu joelho se tornem, relativamente (a ter músculos fracos) mais leves. Ter uma musculatura forte é essencial para se proteger da condromalácia.
A elasticidade muscular também vai prevenir em relação à condromalácia. Uma elasticidade muscular ajuda também a manter o tônus muscular equilibrado. Tudo isso permite ao joelho se mover com liberdade, sem restrições de movimento que poderiam favorecer a compressão da patela na tróclea.
Movimentar-se corretamente faz com que cada estrutura esteja em seu devido lugar, se deslocando só por onde deve. A patela em seu trajeto correto pela tróclea, especialmente, com isso diminuindo-se qualquer sobrecarga desnecessária e, adivinhe, prevenindo o aparecimento da condromalácia. O corpo todo deve se movimentar corretamente, não apenas no joelho. E isso vale tanto para atividades de casa, do dia-a-dia, como no esporte e no lazer.
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Comentários
Wellma,
não tenho como lhe indicar nada específico. Tente encontrar algum calçado com o qual você se sinta confortável. Talvez tentar tênis acolchoados.
Dr. Claudio Rubens
Fisioterapeuta
Crefito 3 - 45360-F
Oi Marcello,
você se refere à cartilagem ou às dores?
Minha sugestão é que tenha uma bicicleta bem ajustada para seu corpo.
Dr. Claudio Rubens
Fisioterapeuta
Crefito 3 - 45360-F
Eu tenho a condromalacia grau 4 nos dois joelhos, e a patela Weiber tb nos dois joelhos, semana passada comecei novamente fisioterapia, estou tomando protetor da patela, sei que nao ha mais cura, mas ha pelo menos chance de redução de grau? Ha outros tratamentos que podem ser feito? Tenho muita dor, principalmente a subir escadas ou andar muito
Voltou a doer depois de longos treinos mesmo a bike estar acertada por profissional bike fit, mesmo com o MTB e tomando os medicamentos 3 ARTROLIVE / dia o joelho ira continuar a doer após longos treinos? não sei o q fazer pois estou querendo competir
Grata!
Olá Ana Claudia,
importante dizer, não há relação direta entre a cartilagem e dor, como mencionamos no texto. Há a possibilidade regressão da gravidade do desgaste da patela, mas essa redução costuma ser pequena. O tratamento costuma melhorar muito as dores, mas o profissional deve estar realmente preparado para esse tipo de tratamento.
Atenciosamente,
Dr. Claudio Rubens
Fisioterapeuta
Crefito 3 - 45360-F
Olá Rafael,
faça uma Fisioterapia (muito) bem feita, com quem conheça como tratar esse tipo de condição. Depois converse com o pessoal que fez os ajustes (BikeFit) e relate seu problema, para que se diminua a sobrecarga na região do joelho).
Atenciosamente,
Dr. Claudio Rubens
Fisioterapeuta
Crefito 3 - 45360-F
Olá Carol,
conheço pessoas diagnosticadas com condromalácia que fizeram um tratamento bem feito e não só continuaram, como certas pessoas começaram a praticar corrida depois do tratamento.
Atenciosamente,
Dr. Claudio Rubens
Fisioterapeuta
Crefito 3 - 45360-F
A tendência é que sim Rê, posso citar a situação de pessoas com patela alta ou mesmo tendência à luxação, que apresentam maior desgaste da cartilagem.
Atenciosamente,
CLaudio
tem que saber a hora certa e como fazer.
O exercício pode ser usado para minimizar a dor.
Atenciosamente,
Dr. Claudio Rubens
Fisioterapeuta
Crefito 3 - 45360-F
Citando PATRICIA J. SANTOS:
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