O Ballet é uma dança que exige muito do corpo nas posturas e nos movimentos. Para sua performance adequada é necessária muita flexibilidade articular, elevado grau de força muscular e refinado controle do movimento. A necessidade constante de repetição dos movimentos associada ao nível exigência do corpo das bailarinas pode torná-las vulneráveis a lesões e dores pelo corpo.
A maior parte das lesões no Ballet ocorre nos membros inferiores (quadris, coxas, joelhos, pernas, tornozelos e pés) e na coluna, especialmente na coluna lombar.
Vamos falar um pouco sobre cada região do corpo e as lesões mais comuns nas bailarinas.
Coluna Lombar
Os movimentos do Ballet exigem que a coluna se mova em seus graus máximos de movimento e isso torna o equilíbrio muscular e nível de força de tronco e abdomem das bailarinas muito importante. A coluna lombar é muito exigida. Músculos fortes tanto na região abdominal, quanto nas costas são fundamentais para a manutenção das vértebras em sua posição e movimento adequados. Outro fator fundamental é o adequado controle do movimento da bacia. Um movimento adequado da bacia permite um movimento de extensão e rotação do quadril sem que haja excessiva extensão da coluna. Quando esse movimento não é adequado, ocorre uma excessiva extensão da coluna, que pode sobrecarregar tanto músculos quanto vértebras. O ritmo lombo-pélvico está alterado ou desequilibrado.
As lesões de coluna mais comuns no Ballet são:
. Espondilólise e Espondilolistese:
Essas lesões ocorrem pela compressão repetitiva da região posterior das vértebras, o que acontece devido, principalmente, à extensão da coluna lombar. Essa extensão da coluna pode ocorrer tanto pela extensão do tronco, pela extensão do quadril (esticar uma perna para trás), mas pode ser também por uma limitada capacidade de rotação lateral do quadril, que vai ser compensada pela anteversão da pelve. A rotação de tronco, especialmente se combinada com a anteversão da pelve ou extensão da coluna, pode também sobrecarregar as estruturas da região posterior das vértebras.
. Disfunção Sacro-Ilíaca
As disfunções da articulação sacro-ilíaca ocorrem quando há uma desarmonia entre os movimentos dos ílios e do sacro, especialmente. Existem sutis movimentos entre esses dois ossos, sendo que os ílios podem rodar para frente e para trás ao redor do sacro, assim como o sacro pode se movimentar em relação aos ílios. Limitações destes movimentos podem originar uma sobrecarga nos tecidos e ligamentos da região, promovendo dor. Essas limitações de movimentos se originam, principalmente, de músculos excessivamente tensos, e de instabilidade articular.
. Protrusão Discal/Hérnia de Disco
As protrusões de disco e as hérnias discais são lesões dos discos localizados entre as vértebras da coluna. Em bailarinas, sua origem está ligada a movimentos extremos da coluna, especialmente os de rotação e de flexão. Os movimentos de flexão muitas vezes não aparecem com nitidez, mas podem ocorrer nas flexões do quadril – especialmente se não houver adequada estabilidade da coluna.
. Lesões Musculares
Os músculos da coluna são constantemente exigidos, tanto na postura como nos movimentos. Tanto os músculos da coluna, como os músculos abdominais precisam estar muito bem condicionados para a prática segura. Se os abdominais estiverem descondicionados deixam de controlar a bacia com efetividade, o que gera conseqüências na coluna. Se os músculos da coluna estiverem descondicionados, deixam de estabilizar as vértebras adequadamente. De uma forma ou de outra a sobrecarga aumenta exigindo mais dos músculos. Isso pode levar a estiramentos musculares e contraturas. É importante ressaltar que não somente os músculos da coluna e do abdomem precisam estar fortes. O ideal é que os músculos do quadril, joelhos, pernas, pés, enfim, do corpo todo, estejam bem condicionados. O corpo funciona em conjunto e uma alteração no pé muitas vezes pode levar a um aumento da sobrecarga na coluna.
Quadril
O quadril é outra articulação intensamente exigida no Ballet, especialmente o movimento de rotação lateral (para fora) do quadril. Esse movimento, que é um dos principais movimentos do Ballet, requer grande amplitude de movimento articular, elevado grau de força da musculatura e controle do movimento. Toda essa exigência aliada aos rigores do treinamento favorece o aparecimento de lesões nessa região do corpo. Por outro lado, a exigência constante desse movimento pode favorecer o surgimento de desequilíbrios musculares entre os músculos que rodam lateralmente o quadril com aqueles que o rodam medialmente (para dentro). Isso traz desequilíbrios tanto para o quadril quanto para outras articulações.
Além disso, a rotação lateral dos quadris é um movimento exigido no limite de sua amplitude, que quando não atingido pode promover compensações nas articulações da coluna (hiperextensão – ver a parte sobre anteversão da pelve, acima, na seção da coluna lombar), do joelho (rotação externa) e do tornozelo (pronação aumentada) para alcançar os graus de rotação não conseguidos. Essas compensações, porém, trazem sobrecargas e desviam as articulações em questão do seu alinhamento ideal. Isso favorece o aparecimento de dores e lesões nos praticantes.
O equilíbrio adequado do quadril é muito importante. Alterações desse equilíbrio trazem consequências não somente para o quadril, mas para outras articulações.
As lesões de quadril mais comuns no Ballet são:
. Síndrome do Piriforme
O músculo piriforme é um dos principais rotadores laterais do quadril. O Ballet exige muito esse movimento e, sendo assim, esse músculo é muito requisitado. Dessa forma ele pode acabar ficando muito tenso, e comprimindo o nervo ciático que passa próximo a ele. Isso vai gerar uma dor ciática, que desce pela coxa e perna, podendo chegar ao pé.
. Lesões do Labrum
O Labrum é um tecido que recobre a beirada do Acetábulo, que é a cavidade da bacia onde a cabeça do fêmur se encaixa para forma a articulação. Esse Labrum, devido aos movimentos repetitivos e extremos do quadril acaba sendo pinçado, comprimido, e pode se machucar. A principal origem das lesões do Labrum (também chamado de Lábio Acetabular) é o Impacto Fêmoro-Acetabular (ver abaixo).
. Síndrome do Ressalto do Quadril
Essa condição ocorre, frequentemente, na região lateral do quadril, pela passagem da Banda Íliotibial (faixa de tecido fibroso que desce pela lateral da coxa) por sobre o trocânter maior (proeminência óssea do fêmur, na altura do quadril). Isso ocorre durante os movimentos de flexão e extensão do quadril, sendo que uma Banda Íliotibial encurtada, possivelmente devido ao encurtamento dos músculos nos quais se origina (tensor da fáscia lata e glúteos), é um fator que predispõe a essa lesão. A Síndrome do Ressalto também pode ocorrer na região interna do quadril, mas nesse caso a mais freqüente causa é a passagem do músculo íliopsoas sobre uma proeminência óssea da bacia.
. Impacto Fêmoro-Acetabular
É o contato inadequado entre o fêmur e o acetábulo, podendo gerar dor e outras lesões. Ocorre devido aos excessivos movimentos de flexão e extensão de quadril, e sua predisposição aumenta devido a certas alterações anatômicas, como um acetábulo fundo ou um espessamente do colo femoral. É mais freqüente na região da frente do quadril, mas pode acontecer também na região posterior. Sua conseqüência mais perigosa é a Lesão do Labrum (ver acima).
. Fratura de Stress da Cabeça do Fêmur
As fraturas de stress da cabeça do fêmur são fraturas que ocorrem ao longo do tempo, devido aos movimentos repetitivos. Vão ocorrer, principalmente, devido ao apoio num pé só, seja durante os movimentos ou no amortecimento dos saltos. Elas podem ocorrer tanto na parte de cima como na parte de baixo do colo, sendo as primeiras mais graves, geralmente tratadas com intervenção cirúrgica.
Joelhos
Os joelhos sofrem influência tanto do posicionamento dos quadris como do posicionamento dos tornozelos. As limitações de rotação lateral dos quadris podem ser compensadas pela rotação lateral dos joelhos. Essa posição dos joelhos aumenta a sobrecarga em estruturas como a patela e a banda íliotibial (tecido fibroso que desce desde a bacia pela região de fora da coxa e se fixa na perna). Por outro lado, os joelhos são bastante sobrecarregados pelos movimentos de dobrar e esticar frequentes, e pelas posições em que ficam por algum tempo dobrados (fletidos).
As lesões de joelho mais comuns no Ballet são:
. Condromalácia Patelar e Condropatia
A Condromalácia Patelar é o desgaste da cartilagem que recobre a patela. Esse desgaste ocorre pois a patela não se movimenta adequadamente quando dobramos ou esticamos o joelho. Esse movimento inadequado pode ter origem na rotação da lateral perna, alteração comum entre as bailarinas. Outras situações que podem favorecer o início da condromalácia são o movimento valgo do joelho, a rotação interna do quadril e o excesso de pronação do tornozelo. O excesso de movimentos de dobrar e esticar os joelhos em iniciantes ou indivíduos despreparados fisicamente também pode promover o início da condromalácia. Quando a condromalácia se agrava, o termo correto é condropatia, pois condromalácia é, na verdade, o 1o grau de condropatia.
. Síndrome da Dor Patelofemoral (Síndrome Fêmoropatelar ou Patelofemoral)
A Síndrome da Dor Patelofemoral tem as mesmas causas que a Condromalácia Patelar, descrita acima. É uma condição dolorosa que ocorre devido a sobrecarga de tecidos e estruturas no joelho. A principal causa da Dor Patelofemoral é a compressão do osso subcondral, ou seja, do osso que está atrás da cartilagem da patela. Outras causas envolvem os tecidos miofasciais e articulares ao redor da patela. Tendões, ligamentos e meniscos não produzem as dores da Síndrome Patelofemoral.
. Lesões de Menisco
Os meniscos são estruturas que ficam na articulação do joelho, e servem para dar estabilidade e encaixe adequado ao joelho. Eles podem se machucar especialmente quando se dobra o joelho com o peso sobre ele, ainda mais se rodarmos o corpo ao fazer isso. Os saltos e agachamentos do Ballet muitas vezes são a origem desse tipo de lesão.
Pé, Tornozelo e Perna
Os tornozelos também são muito exigidos, sendo outra articulação que muitas vezes é requisitada nos limites de seu movimento articular. Isso promove não somente uma sobrecarga articular, podendo gerar pontos de atrito dos ossos, mas também uma sobrecarga da musculatura que controla e mantém as posições e movimentos exigidos. Além disso, o tornozelo pode compensar déficits de falta de movimento do quadril (déficit de rotação externa), ficando assim ainda mais sobrecarregado. Por outro lado, limitações do movimento do tornozelo podem gerar sobrecarga em outras articulações (um tornozelo que tenha um menor grau de flexão ou de pronação pode forçar mais o joelho em flexão, por exemplo).
Os pés são formados por diversas pequenas articulações, e é não somente a origem, mas trajeto de diversos músculos. Suas articulações e músculos são também muito exigidos no Ballet, especialmente nas posturas em ponta de pé. Dessa forma, o pé é outro segmento do corpo que fica mais vulnerável à ocorrência de lesões.
As lesões de pé, tornozelo e perna mais comuns no Ballet são:
. Síndrome do Stress Tibial Medial e Anterior (“Canelites”)
São periostites, inflamação do tecido que recobre o osso, onde o tendão do músculo se fixa. No Ballet a repetida e contínua exigência dos músculos da perna nos movimentos e na manutenção do equilíbrio predispõe os dançarinos a esse tipo de lesão. A Síndrome do Stress Tibial Medial ocorre, principalmente, devido às exigências impostas ao músculo Tibial Posterior, enquanto na Síndrome Anterior isso ocorre devido à exigência sobre o músculo Tibial Anterior.
. Impacto Anterior e Impacto Posterior do Tornozelo
O Impacto Anterior do Tornozelo é o contato inadequado entre o tálus e a tíbia, ou entre esses ossos e tecidos, que ocorre na região anterior do tornozelo. Os repetitivos e excessivos movimentos de flexão de tornozelo são sua principal origem no Ballet. O Impacto Posterior do Tornozelo ocorre de maneira similar, na região posterior do tornozelo e pode envolver também o osso do calcanhar (osso calcâneo).
. Tendinopatias (de Aquiles, dos Fibulares, do Tibial Posterior, do Flexor Longo do Hálux)
As Tendinopatias são processos degenerativos dos tendões, que podem ou não se iniciarem através de um processo inflamatório (tendinite). Elas se originam da repetida e constante atividade imposta ao tendão devido à contração da musculatura e aos movimentos articulares. A Tendinopatia de Aquiles está ligada aos esforços realizados nos saltos, seja na impulsão quanto no amortecimento, no controle dos agachamentos, nos deslocamentos e posturas em ponta de pé. Os tendões Fibulares e o tendão do Tibial Posterior são exigidos pelos seus respectivos músculos, que controlam o equilíbrio em lateralidade do pé, tanto com o pé aplainado no solo, como nas posições e deslocamentos em ponta de pé. O músculo Flexor Longo do Hálux controla a posição do dedão, mantendo-o em ponta, posição constantemente exigida.
. Entorses de Tornozelo
O entorse é o termo que se usa para dizer que houve lesão de ligamentos, que são os tecidos que ligam osso a outro osso, dando estabilidade às articulações. O Ballet envolve saltos e muitas posições de apoio num pé apenas, e de apoio somente na ponta do pé. São movimentos que exigem do corpo, e de certa maneira colocam o tornozelo sob risco de torcer. Um desequilíbrio que o corpo não corrija adequadamente, a beirada do pé fica presa no solo enquanto o corpo cai em seu lado. Isso estica os ligamentos em demasia, levando à ruptura de suas fibras.
Artigos sobre as lesões discutidas no texto:
--- Espondilólise e Espondilolistese ---
--- Hérnia de Disco ---
--- Síndrome do Piriforme ---
--- Lesões do Labrum ---
--- Síndrome do Ressalto do Quadril ---
--- Impacto Fêmoro-Acetabular ---
--- Fraturas de Stress do Fêmur ---
--- Fraturas de Stress ---
--- Condromalácia e Dor Patelofemoral ---
--- Lesões de Menisco ---
--- Síndrome do Stress Tibial ---
--- Síndrome do Impacto Anterior do Tornozelo ---
--- Síndrome do Impacto Posterior do Tornozelo ---
--- Tendinopatias ---
--- Tendinopatia de Aquiles ---
--- Entorses do Tornozelo ---
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