Como avaliar e tratar a Fasciíte Plantar

 

 

 

* as imagens com asterisco (*) foram retiradas do Wikimedia Commons, e necessitam de atruibuição.

 

 

 

 

 

* retirada do Wikimedia Commons

Fáscia Plantar descrita como "Plantar Aponeurosis"

 

 

 

 

 

A proposta deste texto é mostrar, em linhas gerais, como fazer uma avaliação para se estabelecer um processo de tratamento adequado para indivíduos com Fasciíte Plantar. A origem e manutenção desse tipo de lesão é multifatorial e, portanto, é importante a identificação de quais fatores estão presentes para que o tratamento promova uma melhoria real.

 

Abaixo descrevemos como funciona nosso processo de avaliação em indivíduos com fasciíte. Saiba que nosso método de tratamento NÃO envolve uso de aparelhos como choques e ultra-som. Utilizamos uma Fisioterapia muito mais moderna com condutas que trazem resultados verdadeiramente concretos.

 

Depois de mostrar como é feita a avaliação, tecemos comentários sobre os objetivos do tratamento e como ele é feito. Não estaremos detalhando as condutas, nem as avaliações, nem como a escolha das condutas é feita.

 

Quer suas dores tenham se iniciado recentemente, ou você já esteja com fasciíte há muito tempo, entre em contato para que possamos ajudá-lo!

 

 

 

 

A seguir estão os itens da avaliação, que serão examinados detalhadamente mais abaixo:

 

 

 

Conversa Inicial

Avaliação Física

A avaliação Física envolve diversos aspectos:

. avaliação geral

                . avaliação postural

                . avaliação estrutural do corpo

                . avaliação da força e ativação muscular (regiões acima do pé/tornozelo)

                . avaliação da amplitude de movimento (regiões acima do pé/tornozelo)

 

. avaliação específica do pé e tornozelo

                . palpação/identificação do ponto de dor

                . avaliação dos arcos plantares

                . avaliação estrutural do pé e tornozelo

                . avaliação articular do pé e tornozelo

                . avaliação da força e ativação muscular do pé e tornozelo

                . avaliação da amplitude de movimento do pé e tornozelo

                . avaliação do controle da pronação/supinação

                . aplicação de taping e avaliação dos sintomas

 

. outras avaliações

 

. avaliação funcional

                . avaliação do controle motor (regiões acima do pé)

                . análise do movimento

                               . avaliação da pronação/supinação (apoio unipodálico/ agachamento/ afundo/ etc)

                               . avaliação de todos os segmentos

                . análise do gesto esportivo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conversa Inicial

 

 

 

 

O primeiro passo de nossa avaliação é uma conversa dirigida. Nela, além de buscarmos saber a respeito de vários aspectos de sua saúde, vamos fazer perguntas mais específicas sobre a fasciíte e os sintomas. Por exemplo, como é a dor (ela é em um ponto específico? ela se espalha? ela vem junto com formigamento ou perda da sensibilidade?), o que você faz que piora ou melhora a dor, em que momento do dia ela é pior (muitas vezes o pior momento é ao dar o primeiro passo após levantar pela manhã, ou após ficar muito tempo deitado/parado), quando e como ela iniciou (foi após um dia em você caminhou demais? Ou depois de aumentar bruscamente a intensidade de seu treinamento esportivo? Ou ela foi aparecendo aos poucos, se intensificando nos últimos dias?), quais são suas atividades no dia-a-dia, no trabalho, no lazer, no esporte, dentre outras.

 

Com isso vamos ter mais informações que vão nos ajudar a identificar possíveis causa da dor (nos permitindo lhe orientar a respeito do que fazer ou não para que ela não retorne), eventuais fatores que favorecem a permanência da dor (se você fica muito tempo em pé no trabalho e isso causa a piora da dor talvez seja importante alterar esse comportamento), identificar se a dor vem mesmo da fasciíte ou de uma lesão que se confunde com ela (lesão do coxim adiposo do calcanhar já foi diagnosticada, erroneamente como fasciíte mas sua origem é, geralmente, traumática – além do ponto de dor ser diferente; outro exemplo são compressões nervosas que geram um tipo de dor diferente, acompanhada, muitas vezes, de formigamento ou perda da sensibilidade; existe a raríssima fasciíte plantar lateral, cujo ponto focal da dor é outro; dentre outros).

 

- aspecto importante: na fasciíte plantar, o momento de dor mais intenso característico da fasciíte é a dor ao dar o primeiro passo do dia, após levantar da cama pela manhã -

 

Se você for um esportista, algumas perguntas relacionadas ao treinamento muitas vezes já encontram um dos fatores correlacionados ao início de muitas fasciítes: o aumento inadequado da carga de treinamento. Nesses casos já fica a orientação de aumentar essa carga progressivamente e com cuidado, porém, isso não basta para o tratamento. Outros aspectos vão variar de esporte para esporte. Na corrida, por exemplo, alteração de calçados recente, trajeto de treinamento diferente, tipo de piso devem ser todos considerados.

 

 

 

 

disposição da fáscia na sola do pé

 

 

 

 

 

Avaliação Física Geral

 

 

 

 

Avaliação Postural

É a avaliação da postura estática, com a pessoa de pé. Através da avaliação postural teremos uma idéia de como os músculos estão tensionados, como os segmentos do corpo e articulações estão posicionados em relação a outros, como seus músculos mantém a postura em que você fica e outras informações. Observaremos também como está a posição do pé e do tornozelo, embora seja sempre importante salientar que a avaliação postural não se relaciona diretamente com a dor. Como falamos, ela nos dá uma idéia inicial. Por outro lado, eventualmente a postura estática apresenta alguma relação com a postura dinâmica (posicionamento do corpo durante o movimento, o que é analisado posteriormente, na avaliação do movimento ou do gesto esportivo – ver abaixo).

 

 

 

Avaliação Estrutural do Corpo

Quando falamos de avaliação estrutural estamos nos referindo à avaliação da presença de alterações estruturais anatômicas. Elas não são defeitos, mas alterações (de um suposto “normal”) da estrutura óssea ou articular que, eventualmente, restringem certas amplitudes de movimento dos segmentos corporais, estabelecem assimetrias ou apenas mudam a forma como o corpo recebe as forças de impacto a ele impostas (ter um joelho ou tíbia valga estrutural, por exemplo), eventualmente favorecendo a fasciíte plantar. Exemplos de alterações são a anteversão do colo femoral, presença de impacto fêmoro-acetabular, tíbia vara, rotação lateral do eixo da perna, diferença do comprimento de membros inferiores, dentre outras. Algumas dessas alterações podem favorecer o aumento da sobrecarga na fáscia indiretamente através, por exemplo, do aumento da pronação do tornozelo.

 

 

 

Avaliação da Amplitude de Movimento (regiões acima do pé/tornozelo)

Ocorre paralelamente à avaliação estrutural do corpo e visa identificar segmentos que estejam com restrição. Muitas vezes essa restrição é indício de alterações estruturais, daí serem realizadas paralelamente. Muitos dos procedimentos realizados são similares a “exercícios de alongamento” feitos pelo Fisioterapeuta, enquanto outros são testes específicos de mobilidade articular. Através desses exames podemos diferenciar também quando a restrição é óssea ou quando ela se origina de uma tensão muscular aumentada.

 

 

 

Avaliação da Força e Ativação Muscular (regiões acima do pé/tornozelo)

São testes manuais de força muscular que visam identificar se existem músculos com força considerada abaixo do “normal” e testes de palpação associados à contração muscular, que servem para identificar se certos músculos estão “acordados”. A força muscular e ativação muscular adequada são necessárias para que os movimentos possam ser executados com o controle adequado do corpo. Eventuais déficits das regiões acima do pé/tornozelo podem provocar aumento da sobrecarga na região dos pés e na fáscia plantar durante o movimento ou prática esportiva.

 

 

 

 

Fasciíte não é inflamação, mas sim uma desorganização e

enfraquecimento das fibras da fáscia

 

 

 

 

 

Avaliação Física Específica do Pé e Tornozelo

 

 

 

 

Palpação/Identificação do Ponto de Dor

A palpação e identificação do ponto da dor é justamente localizar o ponto de dor e ver o quão específico e sensível ele é à palpação. Podemos associar a isso movimentos do pé, como dobrar o pé para cima puxando os dedos (dorsiflexão do tornozelo com flexão dos extensão dos dedos) ou dobrar o pé para baixo (plantiflexão). Isso já nos permite diferenciar a fasciíte de outras condições e, juntamente com as informações obtidas na conversa dirigida, deixar mais claro o diagnóstico.

 

 

 

Avaliação dos Arcos Plantares

O pé tem 3 arcos: longitudinal medial (borda interna do pé, a queda desse arco é usada como uma das medidas para verificar a pronação do pé), longitudinal lateral e arco transverso. Embora seja sempre avaliar a posição e comportamento dos 3 arcos, via de regra verificar o arco longitudinal medial é considerado mais importante. É necessário verificar se sua eventual ausência é estrutural (pé plano) ou muscular. No segundo caso o trabalho muscular e de reeducação do movimento provavelmente vai corrigir/diminuir a alteração, o que não ocorre se a alteração for estrutural. A verificação do arco é feita tanto na postura em pé, através da observação com o pé sendo seguro pelas mãos do terapeuta, e também através de atividades específicas.

 

 

 

Avaliação Estrutural do Pé e Tornozelo

A avaliação estrutural visa encontrar, conforme falamos acima, alterações da estrutura óssea ou articular que são consideradas fora do suposto padrão “normal”. No caso do pé estamos falando de alterações como antepé varou/valgo, retropé varo/valgo, Pé de Morton, Pé Rígido, dentre outras. Algumas dessas alterações podem favorecer sobrecarga a mais na fáscia, direta ou indiretamente. Por exemplo, um antepé varo pode favorecer a sobrecarga ao aumentar a pronação do pé, enquanto o pé supinado rígido, por exemplo, deixa a fáscia vulnerável por deixá-la mais “encurtada” (fibras mais aproximadas, de forma que qualquer pequena pronação já pode gerar microlesões seu no tecido).

 

 

 

Avaliação da Força, Endurance e Ativação muscular do Pé e Tornozelo

São avaliados tanto os músculos da perna que se fixam no pé, tanto quanto os músculos intrínsecos do pé (se originam e se fixam nele). Para avaliação da força, tanto exercícios específicos quanto resistência manual podem ser utilizados. Algumas atividades para verificar a endurance muscular (resistência dos músculos), como exercícios isométricos em posições específicas, podem ser realizados (nessas atividades cãimbras são comuns em pés com músculos descondicionados) e também pode ser feita uma verificação tátil da atividade de certos músculos intrínsecos do pé.

 

 

 

 Avaliação da Amplitude de Movimento do Pé e Tornozelo

A avaliação da amplitude de movimento do pé e do tornozelo é importante. Uma pronação limitada pode estar relacionada a um pé rígido, que torna a fáscia plantar mais frágil por não tolerar qualquer estress de “esticar”, e assim qualquer pequena pronação que eventualmente ocorre ao se apoiar o pé poderia gerar microlesões no tecido, favorecendo o surgimento da fasciíte. Uma limitação da dorsiflexão do tornozelo pode favorecer um aumento da pronação ao caminhar, correr, agachar ou em outras atividades, e essa pronação excessiva pode sobrecarregar a fáscia. É importante a avaliação da amplitude de movimento dos dedos, pois até mesmo uma limitação no “dedão” pode sobrecarregar a fáscia indiretamente (aumento da pronação na fase que antecede a retirada do pé).

 

 

 

Aplicação de Taping e Re-avaliação dos Sintomas

Quando a dor está presente durante a sessão de Fisioterapia, o que não acontece sempre (muitas vezes só aparece depois que a pessoa caminha longas distâncias ou corre), pode-se aplicar as técnicas de adesivagem (“Taping”) que visam limitar movimentos que sobrecarreguem a fáscia, para que então o paciente realize as atividades dolorosas novamente. Dessa forma, compara-se o movimento que doía quando não tinha Taping, com o mesmo movimento, agora com Taping. Quando, nessa nova realização, se obtém a diminuição ou eliminação dos sintomas na realização das atividades, sabemos que o controle dos movimentos que o Taping promoveu é útil. Dessa forma, sabemos que tanto o trabalho de exercícios e atividades que promovem o mesmo controle dos movimentos, quanto a própria aplicação do Taping são condutas úteis. Muitas vezes essa estratégia é realizada após a avaliação funcional e dos gestos esportivos (os quais podem ser eles mesmos causarem as dores).

 

 

 

 

 

Outras Avaliações

Outros testes clínicos podem ser realizados conforme o Fisioterapeuta ache necessário para esclarecer alguma dúvida, verificar outras lesões ou alterações do movimento.

 

 

 

 

 

Avaliação funcional e Análise do Movimento

 

 

 

 

O movimento é a interação final entre o indivíduo e o corpo, a forma como o corpo é coordenado (pelo sistema nervoso central) e a tarefa a ser realizada. Para uma avaliação adequada do movimento, é necessário entender cada um desses aspectos. A conversa e a avaliação segmentar nos dão importantes informações sobre o indivíduo e o corpo. Conhecer as necessidades e forma da tarefa são necessárias para que se tenha parâmetro de comparação. A coordenação depende de aprendizado e experiências anteriores. O movimento é o resultado final. Esta é uma explicação extremamente simplista. De fato, essa divisão de indivíduo+corpo, coordenação e tarefa é apenas didática.

 

A análise do movimento inclui movimentos do dia-a-dia, do trabalho e das atividades esportivas. Também compreende posições e tarefas específicos, tais como ficar num pé só, exercícios de agachamento e afundo, agachamento unipodálico e, possivelmente, outros.

 

Algumas considerações em relação à análise do movimento:

 

. o foco pode ser específico, mas sem esquecer o todo: embora o Fisioterapeuta, em certos momentos, foque sua atenção em um segmento mais específico, a análise deve ser feita da cabeça aos pés. Um exemplo é a análise da pronação/supinação, que é um aspecto importante. Sua origem, porém, nem sempre se encontra na região do pé ou tornozelo, podendo de fato estar nas articulações do joelho ou quadril. Outro exemplo é observar a abertura lateral dos braços. Abrir lateralmente o braço é uma estratégia que indica uma busca por maior equilíbrio e esse déficit pode estar contribuindo para os movimentos que acontecem mais abaixo. Portanto, por mais que se possa focar a atenção em um ou outro segmento, a atenção deve ser dada ao corpo todo.

 

A atenção do Fisioterapeuta não se deve limitar somente ao pé, mas à toda cadeia de movimentos.

 

. análise do gesto esportivo é fundamental em atletas: a análise do gesto esportivo é outro aspecto importante, que pode ser realizada de maneira mais precisa através da filmagem do atleta. Certas alterações que possivelmente causam ou mantém a dor da fasciíte podem estar presentes somente no gesto esportivo em si. Daí a importância de sua análise quando o paciente é esportista. O oposto também é verdadeiro. Não é porque alguém apresenta uma pronação excessiva ao caminhar, por exemplo, que ela vai apresentá-la durante a corrida.

 

. atenção à dor: movimentos que causam dor devem ser avaliados prioritariamente. Além disso, durante qualquer um dos movimentos avaliados deve-se sempre estar atento ao surgimento de dor. Conforme falamos anteriormente, deve-se verificar se a correção de eventuais alterações do movimento se relaciona com a melhora imediata dos sintomas. Isso já fornece um forte indício da relação daquele movimento com as dores, e fornecem um importante direcionamento ao tratamento.

 

 

 

Movimentos Avaliados:

 

Caminhar: Para pacientes com dor mais elevada a caminhada no atendimento já desencadeia os sintomas. Em outros casos, a dor só aparece após longas caminhadas. Na análise durante o atendimento, pede-se ao paciente que caminhe descalço e calçado pois além de se poder encontrar diferenças entre as duas condições, certas alterações (pronação excessiva, por exemplo) podem ficar encobertas com o calçado.

 

Apoio unipodálico (ficar num pé só): o apoio unipodálico nos dá uma idéia do equilibro do indivíduo e nos mostra como o arco se comporta. Podemos pedir pequenos deslocamentos do centro de gravidade pra ver como ele controla o equilíbrio e os segmentos do corpo. É uma ótima oportunidade de avaliar o controle da pronação ou supinação do pé.

 

Agachamento (dois pés apoiado): o agachar com os dois pés apoiados, além de poder revelar limitações de amplitude de movimento, nos mostra como se comporta o arco do pé e, muitas vezes, revela o hábito de deixar o pé pronar em excesso (frequentemente devido ao  valgo do joelho). Evidentemente, devemos estar atento a todos os tipos de alteração, como rotação lateral do quadril (que pode ser sinal de Impacto Fêmoro-Acetabular) ou varo do joelho.

 

Agachamento unipodálico: progressão do agachamento com os dois pés, oferecendo um desafio maior ao equilíbrio e controle dos segmentos.

 

Afundo: outro exercício desafiador pois a maior parte da força de controle do movimento é realizada com um membro inferior apenas.

 

Corrida, saltos e outros devem ser avaliados conforme a necessidade de cada indivíduo. São movimentos mais relacionados à prática esportiva, sendo a corrida de longa distância uma das práticas com maior incidência da fasciíte. Em casos de atletas, sugere-se fortemente a análise da corrida feita com filmagem para observação mais detalhada de eventuais alterações que estejam contribuindo com (ou que possivelmente tenham originado) a dor. É necessário conhecimento técnico de como avaliar o gesto da corrida para que essa análise (e posterior correção) seja feita adequadamente.

 

 

 

 

Considerações sobre o Tratamento

 

 

 

 

Como falamos anteriormente, o objetivo desse texto não é falar com profundidade do tratamento, mas sim dar uma idéia dos princípios que o regem e de como o que foi encontrado na avaliação é nele utilizado.

 

 

 

Quais condutas podem ser utilizadas?

 

São várias as condutas que podem ser aplicadas:

. exercícios de alongamento

. exercícios de fortalecimento

. aplicação de “Taping” (fitas adesivas)

. técnicas de massagem compressiva

. técnicas de massagem deslizante

. correção do movimento e do gesto esportivo

. uso de palmilhas

. uso de calçados com suporte de arco ou amortecimento

. aplicação de gelo

. aplicação de calor (“bolsa de água quente” e outros)

. outras

 

 

 

 

o alongamento da fáscia é um recurso que

pode ser útil no tratamento

 

 

 

 

 

Como funciona a escolha das condutas?

 

Para entender como funciona a escolha das condutas, antes de tudo é necessário entender o que está ocorrendo na fáscia. A fasciíte plantar, contrariamente ao que o sufixo –ite significa, não é uma lesão inflamatória, mas é, na verdade, uma lesão degenerativa da fáscia. Isso significa que as fibras da fáscia se tornam mais finas, rarefeitas e mais desorganizadas (normalmente as fibras tendem a ficar paralelas umas às outras, na fasciíte elas ficam mais entrecruzadas).

 

Os tecidos do corpo humano se adaptam aos estímulos que são impostos. Isso vale para os músculos, tendões, fáscia plantar, cartilagens, ossos, etc. Se você oferece um estímulo mais intenso do que o tecido está acostumado a receber, o tecido vai, posteriormente, se tornar mais forte (é como se o corpo “pensasse”: “opa, preciso me adaptar a esse estímulo pois pode vir mais”), contanto que o estímulo não seja demasiado intenso, situação na qual o estímulo seria lesivo. Por outro lado, se o tecido não recebe estímulo, ele tende a se tornar “mais fraco”.

 

Na fasciíte todo esse raciocínio é válido. Mas a fáscia está mais fragilizada do que se não tivesse fasciíte. Então o cuidado com a aplicação dos estímulos deve ser redobrado e, especialmente no início do tratamento, proteger a fáscia pode ser um fator importante.

 

Dessa forma, a escolha das condutas é feita de acordo com as necessidades do paciente (o que é identificado pela avaliação), sua tolerância (a intensidade e exacerbação da dor variam de caso para caso) e pelo contexto (atletas de alto rendimento, por exemplo, poderão continuar com a prática independentemente da dor e, dessa forma, a escolha de condutas pode ser feita de forma diferente da de um indivíduo não atleta). Tudo é analisado caso-a-caso e a experiência do Fisioterapeuta conta, pois ele deve saber qual a importância das condutas em cada situação.

 

Numa situação onde há limitação da dorsiflexão levando à pronação excessiva e dor, teremos de corrigir essa alteração. A falta de força da musculatura do pé, em casos onde ela esteja deficitária, deverá ser recuperada. As alterações de movimento serão corrigidas também, caso estejam contribuindo com a lesão (importante lembrar que o corpo tem muitas formas de realizar o mesmo movimento – equivalência motora -, e o fisioterapeuta deverá saber identificar quando a forma utilizada está sendo prejudicial ao paciente e então corrigir). Um pé cavo (supinado) e muito rígido pode recuperar um pouco da mobilidade, mas isso pode não ser possível (ou não trazer resultado) e então deveremos buscar outras formas de tratamento (as outras condutas combinadas podem trazer resultado apesar de não se conseguir corrigir a rigidez do pé). Enfim, o Fisioterapeuta terá de identificar o que precisa ser corrigido, corrigí-lo e dar condições ao paciente de se manter sem dor e lesão.

 

 

 

Quais os objetivos do tratamento?

 

Para que a fáscia se recupere temos 4 objetivos principais:

 

. diminuir e eliminar a dor:

                a eliminação é o objetivo final, mas a diminuição da dor deve ser conseguida o quanto antes, especialmente nos pacientes que ficam mais limitados. Os outros 3 objetivos visam, em última instância, diminuir e eliminar a dor. A diminuição da dor inicial, porém, pode ser conseguida de algumas formas. Alongar a fáscia plantar periodicamente e, especialmente, antes de dar o primeiro passo pela manhã é uma forma importante de controle da dor na maior parte das pessoas com fasciíte. O uso de taping também pode ser útil. O tratamento todo, ao final das contas, tem como objetivo a diminuição e eliminação definitiva da dor.

 

 

. tirar a carga da fáscia plantar:

                tirar a carga da fáscia plantar é um componente importante, pois enquanto há fasciíte ela está fragilizada. Uma sobrecarga normal para uma fáscia sem problemas pode atrapalhar a recuperação no caso da faciíte. Daí a importância de se proteger a fáscia.

 

A correção das alterações de movimento, como a pronação excessiva, o valgo do joelho, alterações específicas da corrida, dentre outras, visa diminuir a carga, eventualmente excessiva, que a fáscia recebe. Essa diminuição da carga feita através da correção dos movimentos que aumentam a carga é tanto um mecanismo de tratamento como de prevenção. Este é o principal mecanismo pelo qual tiramos a carga da fáscia.

 

No início do tratamento, a aplicação de “Taping” associada ou não ao uso de calçados com suporte de arco “seguram” o arco plantar, diminuindo qualquer carga que a fáscia receberia no movimento de pronação, pode ser (mas não obrigatoriamente o é) utilizada.

 

No caso de alterações estruturais, devemos analisar a importância delas e, quando necessário, compensá-las. Um corredor com um antepé varo acentuado que, devido a isso, tenha um excessivo movimento de pronação, poderá, por exemplo, usar uma palmilha que sustente o arco para que o movimento seja menos acentuado. Por outro lado, se esse indivíduo tiver uma musculatura forte e um movimento correto, sua pronação pode ocorrer mais lentamente,ou ser menos acentuada que antes, lhe permitindo correr sem problemas.

 

 

. estimular sua recuperação e fortalecer a fáscia:

                o estímulo à recuperação da fáscia visa acelerar a concentração, o realinhamento e a espessura das fibras. Dessa forma ela se torna, novamente, uma fáscia sem características de fasciíte, mais forte e resistente à sobrecarga.

 

Isso é feito, basicamente, fornecendo uma sobrecarga mais intensa do que ela está acostumada, mas que não seja danosa. Os alongamentos específicos da fáscia promovem um estímulo mecânico suave que auxilia na reorganização das fibras e são uma conduta inicial importante na maior parte dos casos. Exercícios de fortalecimento muscular, tanto aqueles específicos do pé, como outros, podem estimular a fáscia. Exercícios para o tríceps sural (panturrilha) em pé, por exemplo, vão movimentar os arcos do pé durante sua realização, enquanto exercícios como agachamentos vão impor uma carga vertical sobre o arco e, em ambas as situações, a fáscia estará recendo um estímulo que, se adequado ao seu estado, vão promover uma resposta adaptativa que vai torná-la mais forte.

 

 

. prevenir recidivas:

                Isso é feito equilibrando a carga a ela imposta e deixando-a mais forte. Isso vale tanto para o dia-a-dia, lazer, trabalho, como para o esporte amador e de alto rendimento. Mas a fáscia tem uma função, e tirar totalmente a carga dela é impossível e, se fosse, seria temerário, pois essa carga irá para outras estruturas. Mas a fáscia não realiza seu trabalho de sustentação do arco sozinha, os músculos e o movimento do corpo também auxiliam nesse controle, dividindo essa “responsabilidade”. O termo equilibrar a carga sé preferível, pois não se trata de diminuir a carga sobre a fáscia a todo custo, mas de fazer com que outras estruturas realizem seu papel de forma que a fáscia não fique sobrecarregada exageradamente. E para conseguir esse reequilíbrio o ideal é corrigir movimentos que possam estar contribuindo para essa carga excessiva e fortalecer a fáscia, como falamos acima. Outro fator importante é a adequação dos estímulos, ou seja, o atleta vai voltar à sua prática esportiva, mas vai progressivamente. Aumenta a carga de treinamento aos poucos, dessa forma a fáscia vai se tornando mais forte a cada treino.

 

 

 

 

 

Conclusões

 

 

 

 

Tratar indivíduos com fasciíte plantar envolve a análise de diversos aspectos de cada indivíduo  e de seu sistema músculo-esquelético. A partir dessa análise se identifica o que realmente interfere com a lesão e  é feita a escolha das condutas, que são então aplicadas levando-se em conta a necessidade de eliminar a dor, proteger e fortalecer a fáscia e prevenir recidivas. 

 

 

 

 

 

 

Comentários   

#1 Paulo 02-01-2015 13:04
Este artigo tem informações completas sobre o assunto. Parabéns!
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